Clareamento em dentes vitais X estruturas vitais

29/08/2010 21:17

 

Clareamento em dentes vitais X estruturas vitais

Eliane Elena Gonçalves Pasquini
- Cirurgiã-dentista

 

Este trabalho visa mostrar possíveis conseqüências na vitalidade dos tecidos sofridos com o clareamento de dentes polpados.  

 

SINOPSE

Este trabalho visa mostrar possíveis conseqüências na vitalidade dos tecidos sofridos com o clareamento de dentes polpados.  

 

INTRODUÇÃO

O clareamento de dentes polpados estão se tornando populares por ser um método conservador. Com a proliferação no mercado de produtos clareadores realizados no lar e o conhecimento crescente da técnica por dentistas e pacientes, deixaram para trás os esforços de pesquisas atuais para verificar possíveis danos na vitalidade dos tecidos sofridos pelo clareamento.

O autor irá descrever como os dois componentes básicos usados no clareamento vital no consultório, pelo dentista e doméstico pelo paciente podem agir a nível de estruturas como esmalte, dentina, polpa, tecidos moles e sistêmicos.

 

REVISÃO LITERÁRIA

MECANISMO DE AÇÃO

Os agentes clareadores são o peróxido de hidrogênio H2O2 (30 a 35%) e peróxido de carbamida (10 a 15% ) .
O agente clareador ativo no peróxido de carbamida é o peróxido de hidrogênio. Um gel de peróxido de carbamida a 10% deve ser equivalente a uma solução de peróxido de hidrogênio 3,3%. O peróxido de hidrogênio age como hidrogenador e oxidante. Ele vai desprender oxigênio em especial na presença de peroxidase e catalase, e vai efervescer.

No entanto acredita-se que a oxigenação não seja o mecanismo principal do clareamento.

Um oxidante é qualquer espécie molecular com um elétron desemparelhado na sua órbita externa e portanto tem uma forte tendência a interagir com outros elétrons de modo a formar um par de elétrons. O peróxido de hidrogênio libera seus radicais livres que agem como oxidantes.

A teoria é que durante o processo de clareamento esses oxidantes reagem com as ligações dos cromóforos (radicais coloridos dos quais depende a cor de uma substância) e clivam essas ligações (6). Desse modo, os pigmentos do esmalte e dentina são alterados assim obtendo um efeito clareador.

 

TÉCNICA DE CLAREAMENTO USADA NO CONSULTÓRIO

Os elementos principais nesta técnica são: isolamento, peróxido de hidrogênio 30 a 35% e aplicação de calor.

O peróxido de hidrogênio é cáustico para os tecidos moles, o uso de um dique de borracha bem colocado vedando as bordas da gengiva com fio dental,verniz ou uma barreira tipo gel é necessário para proteger a mucosa oral. O calor é usado para acelerar a reação do peróxido de hidrogênio, gaze encharcada com a medicação é colocada no dente do paciente, dependendo da tolerância do paciente, um instrumento aquecedor ajustada a uma temperatura de 43ºC a 60ºC é aplicado intermitentemente à gaze por um período de um a três minutos. Pode ser aplicado uma luz de clareamento, os dentes são cobertos com uma gaze encharcada com peróxido de hidrogênio por trinta minutos, a uma distância de 33cm dos dentes.

Esse procedimento pode ser repetido conforme necessário a intervalos de uma a duas semanas.

Outro elemento em forma de gel, peróxido de carbamida 30 a 35%, este agente não necessita de isolamento. A lâmpada é usada por períodos de trinta minutos ajustada à 33cm dos dentes e também esse procedimento pode ser repetido semanalmente conforma a necessidade.

 

TÉCNICA DE CLAREAMENTO USADA NO LAR

Os elementos básicos desta técnica incluem um gel clareador e uma moldeira de acetato.

Um gel de peróxido de carbamida a 10% é o agente clareador.

Também conhecido como peróxido de uréia ou peróxido de hidrogênio uréia, essa solução foi usada para controle de placa e gengivite em pacientes periodontais (Proxigel, Reed & Carnrick ).

O alvejamento dos dentes ocorreu como efeito colateral. O primeiro relatório publicado sobre o uso desse material como clareador apareceu em 1989. (7)

O peróxido de carbamida é colocado na moldeira, e o paciente usa por algumas horas pelo curso que varia de uma a oito semanas. A moldeira é feita à vácuo com uma placa de acetato medindo 0,5mm de espessura e recortada para seguir rente a borda da gengiva. Um espaçador deve ser usado durante a fabricação da moldeira para permitir um espaço para o gel clareador.

 

PRÉ-TRATAMENTO DO ESMALTE

Para limpeza do esmalte antes do clareamento é usado pedra pomes ou um solvente orgânico como éter etanol ou clorofórmio.

A aplicação de acido fosfórico para acentuar o efeito do clareamento continua sem solução. A caustificação com ácido no pré tratamento resulta em perda e rugosidade do esmalte superficial.

Hall D.A. não detectou nenhuma melhora clínica no efeito clareador obtido no esmalte pré tratado por vinte segundos com ácido fosfórico a 35% antes da aplicação de peróxido de hidrogênio a 35% por trinta minutos, versos o efeito clareador obtido no esmalte não pré tratado no outro lado da arcada.

 

EFEITO NO ESMALTE

Existem controvérsias quanto às avaliações na mudança na superfície do esmalte. Alguns indicam mudança significativa na morfologia do esmalte.

Como Arwell ET AL 1969, relatou que peróxidos podem aumentar a permeabilidade esmalte e remover a matriz da superfície do esmalte (Ledonx et all 1985), esse estudo se refere a concentração do peróxido a 30%.

Wolff ET AL 1990, relatou que esmaltes tratados com peróxido de carbamida a 10%, sugeriu que mesmo em concentrações baixas podem ter ocorrido mudanças estruturais.

Pesquisas mais recentes mostraram que a superfície do esmalte clareado exibia uma maior sensibilidade à abrasão da escovação (3).

Pesquisas in-vitro (45 horas) com dentes hígidos e expostos ao peróxido de carbamida 10% mostrou uma desmineralização e perda do conteúdo mineral.

Mas esta perda não foi muito significante pelos intervalos em que o paciente fica sem o uso do gel pois a saliva exerce efeito tampão remineralizando as estruturas. Estudos demonstram que esmalte desmineralizado é mais receptivo a mineralização do que esmaltes intacto (3).

Experimentos revelam que a desmineralização está relacionada com PH baixo dos agentes clareadores. O efeito na superfície do esmalte com o uso prolongado por mais de trinta horas revelou na análise microscópica que não foram uniformes e algumas áreas tiveram dissoluções sérias (7).

 

EFEITO DENTINA E POLPA

A sensibilidade após o clareamento feito pelo profissional pode ser atribuída pela aplicação de calor e não a própria solução clareadora. O calor pode fazer com que o líquido nos túbulos da dentina se expandam resultando em um fluxo de processo odontoblásticos para fora, uma redução na circulação da polpa dentária, inflamação pulpar e formação irregular de dentina. O peróxido de hidrogênio demonstrou inibir a atividade das enzimas da polpa e foi encontrado em concentrações minúsculas (6).

Porém acredita-se que esses efeitos sejam transitórios e reversíveis.

Existem dados de difusão para H2O2 em períodos de quinze minutos e mais todos os agentes clareadores, são capazes de difundir através de 0,5mm de dentina e trazer danos para polpa em dentes que apresentam áreas de erosão ou abrasão cervical, áreas que desenvolvem dentina esclerótica (1).

Tse.Et. Al (1991) afirmam que há mecanismos suficientes que protegem o tecido contra os radicais hidroxila gerados pelo H2O2 de modo que o dano não é observado.

Independente dos mecanismos tem havido relato suficiente na literatura de difusão de H2O2 através do esmalte intacto (ALKINSON 1947; WAINWIRGHT and LENOID 1950) e danos subsequentes na polpa dentária (Seale et al,1991; Seale Wilson 1985).

 

EFEITOS EM TECIDOS MOLES E SISTÊMICOS

A técnica de clareamento doméstico não fica restrita aos dentes. Os agentes tem contato prolongado com tecidos moles e são deglutidos. O peróxido de hidrogênio, como oxidante tem sido adversamente associado com a carcinogênese, o envelhecimento, arteriosclerose e danos aos pulmões (6).

O uso prolongado de peróxido de hidrogênio pode ser associado com danos periodontais, cura retardada de feridas, alteração da flora microbiana e/ou infeções oportunistas.

WEITZMAN et al sugeriram uma possível relação de um maior desenvolvimento de câncer com o uso de peróxido de hidrogênio associado ao fumo. No entanto o peróxido de hidrogênio tem sido usado como irrigador oral há muitos anos e não há relato que o implica como agente causador de câncer.

Esses estudos sobre o efeito do peróxido de hidrogênio não podem ser aplicados ao peróxido de carbamida. Atualmente poucos estudos de toxidade sobre ele foram publicados. Mas, há relatos de hipersenssibilidade nos dentes, irritação no tecido mole, garganta inflamada e estômago irritado (1). Esses problemas foram rapidamente solucionados depois de encerrado o tratamento.

 

CONCLUSÃO

Muitos produtos clareadores tem surgido no mercado.

Estes devem ser aplicados pelo dentista com sua supervisão. Alguns, porém, estão disponíveis à vontade e oferecidos pela televisão sendo usados indiscriminadamente pelos pacientes.

Na ânsia de acelerar o efeito de tais produtos, os pacientes exageram na dose e na frequência de sua aplicação, tornando-se preocupante a exposição desses agentes a túbulos dentinários permeáveis como cáries, restaurações com infiltração, abrasão e erosão cervical podendo trazer riscos irreversíveis às estruturas dentais e riscos à saúde.

O tratamento com supervisão do profissional constitui uma alternativa viável e demonstra ser eficaz.

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