O Uso da Toxina Botulínica na Odontologia.

27/12/2006 02:56

 

Apesar da toxina botulínica ser amplamente conhecida por sua utilização cosmética  em  injeções intramusculares para a redução de
rugas faciais, a sua principal aplicação é voltada ao uso terapêutico. A utilização dessa toxina purificada em procedimentos cosméticos só foi
aprovada pela ANVISA no Brasil em 2000 e nos EUA, pela FDA, em 2002.
A  utilização terapêutica da toxina botulínica foi primeiramente estudada por Scott e colaboradores em 1973, em primatas. No final da
década de 1970 a toxina foi introduzida como um agente terapêutico para o tratamento do estrabismo. Desde então  suas aplicações
terapêuticas têm se ampliado em diferentes campos.

A toxina botulínica é produzida pela bactéria  Clostridium botulinum Há sete formas distintas de neurotoxina, que vão desde o tipo
A a G, com o tipo A (BTX-A), sendo os mais comumente utilizados por razões terapêuticas. “Botox” (Allergan, Inc, USA) é o nome comercial da
toxina botulílinca do tipo A  primeiramente  aprovada para uso cosmético e terapêutico, sendo o mais amplamente divulgado muitas
vezes é aplicado como sinônimo do procedimento.

A toxina botulínica (BTX) é uma protease que causa denervação química temporária de músculos esqueléticos por bloqueio da
liberação mediada por Ca+² de acetilcolina das terminações nervosas de neurônios motores alfa e gama (junção mioneural), produzindo um
enfraquecimento dose-dependente, temporário da atividade muscular tornando os músculos não funcionais sem que haja efeitos sistêmicos.
Entretanto  acredita-se que o músculo inicia a formação de novos receptores de acetilcolina. À medida que o axônio terminal começa a
formar novos contatos sinápticos, há um reestabelecimento da transmissão neuromuscular e retorno gradual à função muscular
completa, geralmente com efeitos colaterais mínimos.
Os 7 tipos de toxina possuem toxicidades específicas, diferentes tempos de persistência nas células nervosas e diferentes potenciais,
entretanto todos os sorotipos de BTX, fundamentalmente atuam inibindo a liberação de acetilcolina.
Os efeitos clínicos podem ocorrer em um período de 1 a 7 dias após a administração, sendo comumente  notados entre 1 a 3 dias.
Segue-se um período (entre 1 a 2 semanas) de efeito máximo e então os níveis atingem um patamar moderado até a recuperação completa
do nervo em um período entre 3 a 6 meses.

Injeções de toxina botulínica são efetivas para diversas desordens clínicas que envolvam atividade muscular involuntária ou aumento do
tônus muscular. Estudos recentes sugerem ainda que a toxina botulínica também desempenha um papel  no alívio  de dor pela inibição da
liberação de CGRP e da substância P, neuropeptídeos associados ao mecanismo  de sensação dolorosa.  Além disso, quando aplicada em
tecidos glandulares, atua no bloqueio da liberação de secreções.

Nesse sentido a BTX apresenta um potencial de emprego na área de atuação do cirurgião-dentista, como em casos de bruxismo, hipertrofia
do masseter, disfunções  têmporo-mandibulares, sialorréia, assimetria de sorriso, exposição gengival acentuada e, mais recentemente tem sido
descrita a utilização profilática para a redução da força muscular dos músculos masseter e temporal em alguns casos de implantodontia de
carga imediata.

A aplicação da BTX apresenta-se como um procedimento seguro e eficaz podendo, entretanto estar associada a possíveis complicações,
incluindo reação alérgica, hipoestesia transitória, dor e edema no local da aplicação,  eritema, entorpecimento temporário, náusea, dor de cabeça, extensão do local, levado a paralisia indesejada de músculos adjacentes, xerostomia e alteração de voz.

Por possuir conhecimento  sobre as estruturas de cabeça e pescoço cirurgião-dentista pode tratar certas afecções da face e da
cavidade oral de forma conservadora e segura com a aplicação da toxina botulínica, desde que possua treinamento específico e
conhecimento sobre sua utilização e não extrapole suas funções.
Ressalta-se ainda  que as toxinas botulínicas são o agente causal da doença botulismo, um tipo de envenenamento potencialmente fatal,
devendo sempre ser utilizadas por profissionais capacitados.

Referências:

Carruthers J, Carruthers A.  Botox: beyond wrinkles. Clin Dermatol. 2004
Jan-Feb;22(1):89-93.

Hoque A, McAndrew M.  Use of botulinum toxin in dentistry.  N Y State
Dent J. 2009 Nov;75(6):52-5.

Lew MF. Review of the FDA-approved uses of botulinum toxins, including
data suggesting efficacy in pain reduction.  Clin J Pain. 2002 Nov-
Dec;18(6 Suppl):S142-6.

Majid OW.  Clinical use of botulinum toxins in oral and maxillofacial
surgery. Int J Oral Maxillofac Surg. 2010 Mar;39(3):197-207.

Schwartz M, Freund B.  Treatment of temporomandibular disorders with
botulinum toxin. Clin J Pain. 2002 Nov-Dec;18(6 Suppl):S198-203

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